O BEIJO

DE: KATE CHOPIN

Tradução: Evandro Ifé

Publicações

Ainda estava bastante claro lá fora, mas dentro da casa as cortinas e o brilho fraco e incerto do fogo desenhavam sombras profundas que tomavam a sala.

Brantain sentou-se em uma dessas sombras que o encobria por completo, mas não se importou. A escuridão lhe conferia coragem para fixar seus olhos ardentes sobre a garota que se sentava à luz da lareira.

Ela era muito bonita, com uma pele delicada e tingida por uma cor rica que transpirava vida. Elegante e composta, acariciava com movimentos lentos o pelo acetinado do gato alojado em seu colo e vez por outra lançava um olhar demorado na direção da sombra onde sua companhia estava sentada. Conversavam baixo sobre coisas indiferentes que claramente divergiam daquilo que ocupava seus pensamentos. Ela sabia que ele a amava. Um sujeito franco e fanfarrão, sem malícia o suficiente para esconder seus sentimentos e sem qualquer iniciativa em realizá-lo. Nas duas últimas semanas ele buscava ansioso e persistentemente por sua companhia. Ela estava confiante e esperando que ele se declarasse. E pretendia aceitá-lo. Brantain não era um tipo marcante e era pouco atraente, porém era bastante rico o que lhe agradou e a fez desejar todos os mimos que a riqueza poderia lhe proporcionar.

Durante uma das pausas entre a conversa sobre o último chá e a próxima recepção, a porta se abriu e um jovem, a quem Brantain conhecia bem, entrou na sala. A garota virou o rosto para ele. Uma passada ou duas e já se curvava sobre a cadeira. E antes que ela pudesse suspeitar de sua intenção, pois ela não percebeu que ele não havia visto o visitante, ele deu um beijo ardente e demorado em seus lábios...

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Envoltos pelo Nevoeiro

DE: RICHARD HARDING DAVIS

Tradução: Evandro Ifé

Não há lugar mais difícil no mundo para ser aceito do que o Clube Grill. Ser incluído na sua lista de sócios equivale, para o novo membro, uma distinção como a de ter sido honrado com a Ordem Militar da Jarreteira da cavalaria britânica, ou ter sua fotografia publicada na Revista Vanity Fair.

Um homem que pertença ao Clube Grill jamais revelará tal fato. Se você lhe perguntar se frequenta algum clube, provavelmente ele não mencionará este em particular, pois teme que ao fazê-lo, certamente, soará como deselegante ostentação.

A origem do Clube Grill data dos dias em que o Teatro de Shakespeare ocupava o atual terreno da sede do Jornal Times.

Há uma grelha de ouro em exposição que foi presenteada por Charles II e o manuscrito original de Tom and Jerry in London, que foi doado por Pierce Egan pessoalmente ao Clube.

Os membros, quando escrevem cartas no Clube, ainda usam areia para polvilhar a tinta sobre o papel.

O Grill desfruta da distinção de ter rejeitado com bola preta, sem preconceito ideológico, um primeiro-ministro de cada partido político. Na mesma sessão em que um dos ministros foi rejeitado, foi eleito, por causa de seus sapatos elegantes e sua pasta de couro, Q. C. Quiller, que era então um advogado sem um tostão.

Quando Paul Preval, artista francês convidado pela realeza para vir a Londres para pintar um retrato do Príncipe de Wales, foi nomeado como membro honorário - somente estrangeiros podem ser membros honorários - assinou seu primeiro cartão de vinho, ele disse:

— Eu prefiro ver meu nome aqui que em um quadro no Louvre.

Ao que Quiller comentou:

— Aquele era um elogio do diabo, porque os únicos homens cujos nomes figuram no Louvre, hoje, morreram há 50 anos.

Na noite depois do grande nevoeiro de 1897, havia cinco membros no Clube, quatro estavam jantando e um estava lendo em frente à lareira.

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